Quando fui visitar o apartamento do Porto pela primeira vez, o Carlos Pinto, hoje um grande amigo, disse que o imóvel era logo antes da Afurada.

Aos meus ouvidos à época, parecia que o lugar era na furada.

Não parecia promissor. Como convencer o João a comprar um novo apartamento num lugar que já se apresentava como uma “furada”?

Mas o que descobrimos depois foi justamente o contrário.

A Afurada, para mim, é um dos lugares mais encantadores da região de Gaia e Porto.

É uma pequena freguesia de poucas casas de pescadores, justo em frente à foz do Douro, na margem de Gaia.

Ao caminhar pela Afurada me senti em Portugal de algumas décadas passadas. No natal passado estivemos passeando por lá com dois amigos de Lisboa, nossos antigos vizinhos, e vimos uma celebração de natal como ainda não havia visto igual.

Havia música na rua, muita cerveja e dança! Todos os vizinhos se alinhavam em duas fileiras, uma de frente para a outra e marcavam o compasso da música num ir e vir cheio de alegria. Uma comemoração alegre e festiva.

Em frente ao conjunto de casas se encontra uma lavanderia de tanques comunitários. As mulheres levam seus cestos de roupa, o sabão e lavam suas roupas ali. Depois, estendem em grandes varais na esplanada em frente.

Mas mesmo a Afurada não pode deter o tempo, e de um ano para cá já se vê muita mudança. A começar por dois novos restaurantes de peixe mais requintados.

Mas os restaurantes tradicionais das famílias dos pescadores e moradores, ainda estão lá e são muito concorridos durante os finais de semana.

O peixe é feito na brasa, na calçada da rua. Muito bom e preço muito convidativo.

Da Afurada é possível atravessar o Douro numa embarcação que leva até o Porto, perto da Foz. É o menino do Douro.

A travessia é rápida e custa 1,50 euros. É possível atravessar com a bicicleta pagando-se um adicional.

Muitas pessoas fazem a travessia de barco com suas bicicletas, pois passear de bike pela orla de Gaia na imensa ciclovia é um passeio encantador.

De Afurada seguimos pela orla e passamos pela Reserva Natural do Estuário do Douro, um parque biológico de proteção aos pássaros que migram por aquela rota.

A primeira vez que João e eu caminhamos por aqueles lados quase não podíamos acreditar na beleza e na nossa sorte de morar tão perto de um lugar assim.

Foi como o clássico atirar no que viu e acertar no que não viu.

Na reserva podem ser observados guarda-rios, corvos – marinhos, garças – brancas, maçaricos e outras tantas espécies mais.

Caminhamos, caminhamos, até onde os pés aguentam.

Um pouco mais adiante, cerca de uns 8 kilômetros, chega-se a praia do Senhor da Pedra. Outra descoberta fascinante.

Na praia, bem próximo ao mar, existe uma pequena rocha sobre a qual foi construída uma capela. Antes da capela o lugar era local de cultos pagãos.

Com o movimento das marés, durante algumas horas do dia, a capela fica ilhada, como um pequeno Mont Saint Michel.

Pois bem, esse litoral de Gaia foi definitivamente um “plus” na nossa mudança para a região do Porto. Aconselho a quem estiver pela região a fazer o passeio, com sempre, com calma, para aproveitar cada canto.