Uma História de Vinhos, Amigos e Poesia

Hoje conto outra história com muita poesia.

Não me arvoro a escrever poesia, penso que os fatos da vida que quero lhes contar é que, para mim, são revestidos de poesia.

Em Freitas, ainda no norte de Portugal, uma família possuía terras que, com o passar dos anos e sucessões, foram se retalhando entre parentes.

Um dos membros dessa família, também partiu para o Brasil e também, como nosso amigo de Castanheiro, lá ganhou a vida.

Depois então, aos poucos, conseguiu reunificar as terras e reunir a família toda ao redor.

Seu filho tinha imenso orgulho e carinho pelos feitos do pai e imenso carinho pelas terras ancestrais, mas vivia do outro lado do Atlântico.

Em Portugal vivia seu primo, o José, que trabalhava num banco.

Certo ano José descobriu um câncer e teve que deixar o trabalho estressante.

Foi então que o primo do Brasil sugeriu a empreitada do renascimento do vinhedo, junto com o primo em Portugal. Ele daqui, o outro de lá.

José se recuperava da temida doença e as perspectivas não eram as melhores, então se entregou às vinhas como se “não houvesse amanhã”.

Mesmo naquela época já era difícil encontrar mão de obra interessada em trabalhar nos campos em Portugal. Então José plantou, tratou e colheu tudo sozinho. No início até mesmo com tesoura manual e mecânica, sem qualquer eletricidade para suavizar a tarefa.

vinhedo

O primo do Brasil mandou comprar e construir um galpão com os melhores equipamentos para armazenar, despelar, pisar e testar as uvas colhidas para o delicioso vinho verde que produziriam.

Em épocas de vindima, os primos convidavam os amigos, ofereciam almoço, levavam música e até fogos de artifício para que juntos realizassem a vindima a tempo.

Meus sogros participaram de algumas festas dessas.

Ficavam todos na casa centenária com um longo corredor cheio de quartos e tratavam de participar da festa de fazer o vinho.

a casa

Mas a grande poesia, para mim, foi que as vinhas e a vida do mundo do vinho curou o José. Claro, não se desmerece a medicina, mas a vida que ele reinventou, enterrou de vez a tristeza, e hoje podemos degustar o delicado e cuidado vinho que o José faz para poucos, pois se trata de uma produção pequena.

João e eu temos a grande sorte de podermos, uma vez ao ano, visitar essa casa cheia de história e sentar junto à mesa de pedra no jardim, ou de frente para a lareira da cozinha e conversar, conversar, sem pressa. José e seus primos tem histórias sem fim.

servindo vinho

Algumas vezes levamos amigos. Em 2017 estive lá com dois amigos, Robert e Marilee, que conheço desde 1985, quando fui baby-sitter do Ben, filho deles.

amigos na mesa de pedra

Pois bem, José nos recebeu de braços abertos e como sempre, sentamos na mesa de pedra para beber o vinho, comer uns sandes, que é como os portugueses chamam os sanduíches, e conversar.

José não fala inglês, nem Robert português. Mas no vinho se encontraram!

corredorRobert contou sua história, que também tem um bocado de drama e poesia e, quando vimos, José se emocionava com os relatos do amigo improvável que acabava de fazer. Não teve jeito, também chorei. Não um choro triste, mas um choro de emoção.

Meus filhos também guardam belas memórias dessa casa, em um inverno de 2005, por aí. Ficávamos conversando na frente da lareira da cozinha até a última chama se apagar, quando então saíamos correndo para os quartos, fazendo barulho no chão de madeira e fugindo do frio, pois a casa não tem aquecimento, até nos enfiarmos debaixo de quatro ou cinco cobertores de lã bem pesados na cama, o que tornava difícil mudar de posição durante o sono, devido ao peso.

 

Para mim esses momentos são um tesouro e um privilégio que compartilho aqui.

 

2 comentários Adicione o seu

  1. Renato Bayardino disse:

    Um prazer ler e rever esse belo lugar, que tantas e boas recordações me trazem.

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    1. violetavalle disse:

      Fico feliz!

      Em segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018, Traduzindo Portugal Para

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