Pé Na Estrada – Castanheiro e Carrazeda dos Ansiães

Hoje falo de um passeio encantador que fizemos em 2016.

Falo de Castanheiro e de Carrazedas dos Ansiães.

A razão de nosso passeio era um aniversário.

Conto a história como eu me lembro e como me foi contada.

Fomos convidados por um casal para uma festa de aniversário numa aldeia. Castanheiro, perto de Carrazedas de Ansiães.

Castanheiro era uma aldeia muito modesta. E modesta também era a vida de nosso anfitrião, quando menino.

A família mais rica da cidade tinha o costume de presentear a todos os moradores no final de cada ano. Aos homens um par de calças, às mulheres um corte de tecido.

Nosso amigo foi moço para o Brasil “ganhar a vida”.

Voltou para sua terra já com a vida ganha e agora era a sua vez de presentear a aldeia.

Todos anos, em novembro, faz uma festa onde convida todos, rigorosamente todos os moradores e alguns forasteiros, como nós.

Manda rezar uma missa e à noite a festa começa.

Construiu um galpão só para atender a festa, que é muito caprichada.

Manda preparar o leitão, a carne de vaca, o vinho do lugar, o caldo verde, os enchidos e a música ao vivo.

Música ao vivo

A aldeia toda comparece.

Sentam-se todos em volta do grande salão e os cavalheiros tiram as damas para a dança e às vezes, vai dama com dama mesmo.

dança

Comigo aconteceu assim: um senhorzinho veio e me tirou para dançar. Aceitei, pois não iria fazer desfeita.

Ele ficou tão feliz, e começou a rodopiar pelo salão inteiro mostrando aos outros, ou as outras que não tinham aceitado a dança, que a estrangeira era o seu par. Ia berrando:

“olha o carrazedas!”

Quando a banda parou a música, eu já estava com o coração na boca de tanto rodopiar!

Ainda convenci o João a dançar um pouco e ainda fui honrada com uma dança com o aniversariante.

Uma festa na aldeia como jamais tinha visto.

Depois da festa fomos dormir numa casa de turismo rural chamada Casal de Tralhariz. É uma construção do século XVIII, que foi restaurada e recebeu acréscimos.

Casal de Tralhariz* CRÉDITO: CÂMARA MUNICIPAL DE CARRAZEDA DE ANSIÃES

Ficamos num dos quartos da casa antiga, que tem nome de diferentes castas de uvas.

Ao chegar formos recebidos com um vinho do Porto de 28 anos de idade. Uma iguaria. As senhoras que nos receberam na pousada também estavam na festa.

Gostamos tanto do lugar que uns meses mais tarde voltamos com os amigos Renato e Angela.

Fomos então visitar o castelo de Ansiães.

Castelo de Ansiães

Parece que o nome de Ansiães, que algumas vezes é grafado como Anciães, teria vindo de Ansilio Anes, que teria sido o primeiro morador e proprietário no local. De Ansilio Anes virou Ansilanis e depois evoluiu para Ansiães.

Fomos de carro procurando o castelo, mas a sinalização não era das melhores. Procuramos então a colina do lugar, certos de que seria lá o lugar propício à edificação de um castelo. Acertamos.

A história do castelo vai longe.

Ansiães recebe seu primeiro foral do rei leonês Fernando Magno. Os reis portugueses Afonso Henriques, Sancho I, Afonso II e D. Manuel I também reconhecem e concedem forais à vila, que no século XVIII viu reduzida a sua população. Na época de Afonso III, o rei autorizou a realização de feira no lugar, o que é sinal de intensa atividade comercial.

Em 1372 o castelo é dado a João Rodrigo Porto Carrero, mas que mais tarde cai em desgraça por defender as pretensões da Rainha Beatriz contra os interesses lusos.

As ruínas do castelo ainda possuem uma janela voltada para um precipício, onde eram executados os traidores, que eram “defenestrados” por ali, direto para a morte.

Próxima ao castelo está a Igreja de São Salvador de Ansiães, cujo portal principal possui um Cristo Pantocrator, e que representa o mais completo exemplar do românico português.

Igreja de São Salvador*CRÉDITO: CÂMARA MUNICIPAL DE CARRAZEDA DE ANSIÃES

Em nossa visita ao castelo, pasmem, me perdi! Caminhava, caminhava e voltava sempre para o mesmo lugar, quase como num feitiço. Tive que ser resgatada pelo João.

Carrazedas de Ansiães e Castanheiro ainda tem muito mais a ver.

São lugares que certamente voltaremos mais vezes.

 

1 comentário Adicione o seu

  1. Claudia Torres disse:

    Estou em Carrazeda, terra de meus bisavós paternos e de minha avó paterna. Foram para o Brasil quando minha bisa ficou viúva, muito jovem ainda com duas crianças pequenas: minha avó e meu tio avô. Lá minha avó cresceu e conheceu meu avô, tbm português e tiveram meu pai. Nenhum deles nunca mais voltou a Portugal 🇵🇹! Mas eu estou aqui para honrar essa história de muita dificuldade. Carrazeda hoje é bastante turístico e com a agricultura da uva muito desenvolvida. Faz parte do território Douro vinhateiro. Adorei seu blog Violeta!!

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