Um amigo perguntou sobre o sul de Portugal, pois está prestes a fazer uma viagem por lá.
Conto então o que lembro de nossa experiência com o sul, ressaltando que não fomos no verão.
Partimos de Lisboa na primavera, de carro, pela rota da estrada nacional – N120, o que quer dizer que não fomos pela autoestrada rápida a A2. Íamos eu, João, Renato e Angela, nossos amigos de muitas viagens.
Provavelmente demorou muito mais, mas valeu a pena. Fomos pela Costa Vicentina. Só esse nome já me traz sentimentos de alegria.
Costa Vicentina.
A estrada é estreita e por vezes sinuosa. Ao longo do caminho vamos passando por campos de flores amarelas infindáveis na região de Grândola.
Me senti “following the yellow brick road”, apenas os tijolos eram flores.
Paramos para almoçar em Odemira, no restaurante “Os bons amigos” à beira da estrada.
Gostamos do nome e da comida. Restaurante familiar, limpo e correto. Quando digo familiar é familiar mesmo. A família estava toda almoçando lá.
Seguimos caminho para Sagres, passando pelas praias de Arrifana e Beliche. Existe uma infinidade de outras praias. Essas são apenas as que paramos no caminho de ida.
Arrifana é uma bela praia. Aparentemente muito querida pelos surfistas.
Na encosta vimos pouquíssimas casas. Um paraíso quase intocado.
Em Beliche chegamos a descer na praia, caminhar e arriscamos molhar os pés.
Não estávamos de roupa de praia, o que foi uma estupidez, pois o mar pedia um mergulho.
Águas límpidas, areia firme para caminhar e uma encosta também de tirar o fôlego, com cavernas esculpidas na base.
De lá seguimos nosso caminho para o Cabo de São Vicente, que dá nome à Costa e onde a vista é estupenda.
A fortaleza de Sagres em si, não conseguimos visitar, pois estava fechada. Uma pena.
Seguimos então para nosso hotel em Lagos.
Uma curiosidade é que Lagos seria o lugar da tal “escola de Sagres” que aprendemos no colégio, mas que de fato, não era uma escola física, mas sim uma corrente, como uma escola freudiana, ou lacaniana, um movimento navegador.
O hotel era um hotel muito confortável e moderno. Curioso é que os corredores eram absolutamente escuros o tempo todo. Era difícil encontrar a fechadura para abrir a porta do quarto, por exemplo.
Estava repleto de turistas alemães idosos, o que fez com que brincássemos que se um dos velhinhos caísse ou desmaiasse no corredor, ia ficar por lá mesmo, pois ninguém ia ver, de tão escuro.
Lagos foi a nossa base. De lá fizemos passeios pelas praias do Algarve. É uma cidade relativamente grande, com um centro histórico muito bonito, e uma marina, que dizem ser uma das melhores da Europa. Não entendo nada de barcos, portanto, fico com o que fui informada.
A história de Lagos remonta a 2.000 anos antes de Cristo, foi ocupada por cartagineses, romanos, bárbaros e muçulmanos. Conquistada pelos cristãos apenas no século XIII.
Em 1573 recebe o estatuto de cidade e torna-se a capital do Reino do Algarve até o tsunami de 1755, o mesmo que atingiu Lisboa.
O centro histórico é muito bonito, mas tivemos que ir de carro, pois nosso hotel era afastado.
Seguimos para a Praia Dona Ana, considerada uma das mais bonitas de Portugal. De fato, a praia é muito linda.
De lá fomos para a Ponta da Piedade. Lugar lindíssimo, mas que precisa de “pernas” para aproveitar todo o esplendor, pois caminhamos pelos rochedos e descemos uma infinidade de degraus até o mar, e depois, claro, temos que subir de volta. Haja perna!
Mas para quem pode, vale o passeio.
Lá embaixo, já no mar, entre os rochedos, é possível pegar uns barquinhos pequenos para fazer passeios pelas grutas marinhas.
No dia que fomos, o mar estava muito agitado e não quisemos arriscar. Nem nós, nem ninguém.
Em nosso segundo dia fomos para a praia de Carvoeiro, onde pegaríamos o barco para enfim conhecer as encostas, mas mais uma vez não tivemos sorte com o mar. Ficamos na praia mesmo.
A água era muito fria. Só mesmo russos e outros nórdicos para achar a água agradável.
Ficamos na areia saboreando um vinho rosé e vendo o “russo” sair da água roxo, mas feliz!
Mas perto de Carvoeiro fizemos uma caminhada absolutamente inesquecível.
Em frente ao restaurante O Litoral, onde almoçamos, tem um estacionamento de carros que, ao fundo, dá início a um parque sobre as encostas.
No parque caminhamos pelas encostas vislumbrando muitas praias e o mais espetacular de tudo, o Algar de Benagil, um buraco na encosta esculpido pelo tempo e o vento. Lá embaixo formou-se uma praia para a qual só se tem acesso de barco.
Essa gruta é um dos motivos pelos quais voltarei ao Algarve.
No terceiro dia de passeio fomos mais para leste até Tavira e de lá pegamos um barquinho para a praia de Cabanas. Pegamos um barquinho coletivo, mas particular. Na volta percebemos que também há um barquinho público que faz a travessia, mais barato, mas sinceramente não me lembro o preço nem de um, nem de outro. Me lembro apenas que não era caro e que valeu a pena.
Ao chegar na ilha de Cabanas, ainda caminhamos uns 500 metros por um passadiço até a beira da praia, onde passamos a tarde toda debaixo do Sol, numa praia de águas claras e temperatura agradável para mim.
Na volta fomos em outra ilha de praia, a praia da ilha de Tavira, lotada de turistas, onde comemos um delicioso robalo fresco grelhado e bebemos um excelente vinho branco.
Aliás o que eu comi durante toda a viagem ao Algarve foi robalo, robalo, robalo! Ô peixe bom!
No último dia de Lagos assistimos a uma apresentação de dança algarvia. Uma beleza!
O corridinho, que se dança em pares com um dos pés de cada dançarino e dançarina bem juntos e os outros empurrando num rodopio frenético, é simplesmente delicioso de se dançar! Pois é verdade! Dançamos o corridinho com os dançarinos locais, claro.
Depois, numa grande roda, os homens por fora, as mulheres por dentro, fizemos uma trança e zaz, nos carregaram nos braços cada par de cavalheiros, uma dama entre os braços. Foi mágico e maravilhoso. Fiquei com medo do senhorzinho a quem me coube carregar ter um troço. Mas acabou tudo bem!
Depois da nossa dança algarvia, rumamos na manhã seguinte de volta a Lisboa.
No caminho paramos no castelo de Aljezur, o último bastião da conquista cristã sobre os árabes.
Durante o período muçulmano o entorno do castelo era navegável, o que o tornava um importante entreposto.
O que se vê do castelo hoje em dia é resultado dos abalos do terremoto de 1755.
De Alzejur seguimos nosso caminho pela estrada de flores amarelas até Sines, cidade de Vasco da Gama onde almoçamos e quase fomos multados pelo fato de os passageiros de trás do carro não estarem momentaneamente usando o cinto de segurança. Cento e vinte euros de multa por pessoa!!! Melhor nunca descuidar. Nosso costume brasileiro de relevar o cinto para os passageiros de trás pode sair muito caro em Portugal.
De Sines seguimos adiante pela Comporta, um lugar absolutamente magnífico, de praias paradisíacas.
Um dia ainda hei de ter uma casa por lá…. Um dia….
Continuando nossa jornada chegamos à restinga de Tróia, junto ao estuário do Sado.
Aí meu coração derreteu de vez e não resisti e entrei na água de roupa mesmo, pois mais uma vez estupidamente não viajamos com roupa de banho.
O rio Sado encontra o mar na península, uma região de areia branca, águas claras e agradavelmente geladas.
Em Tróia é possível a visitação a ruínas romanas, um posto para salgar o peixe à época.
De lá pegamos a barca para cruzar o rio e chegar a Setúbal e voltar a Lisboa.
Tróia também está na minha lista para uma volta.
Enfim, nossa viagem ao Algarve foi apenas um primeiro aperitivo.
Hay que volver!