Dominguitos em Lisboa

Seguindo o rumo das viagens com grupos, conto aqui um pouco de uma das viagens mais divertidas que fiz em Portugal, ainda na época do apartamento em Lisboa. Falo da viagem dos “Dominguitos em Lisboa”.

Explico: os dominguitos são irmãos, filhos de Dona Olguita, minha avó, e que se encontram aos domingos na casa de minha mãe no Rio de Janeiro para festejarem a vida, lembrar histórias de família e partilhar um cafezinho.

Pois bem, numa certa dominguita de dezembro, lancei a ideia de fazermos uma “dominguita em Lisboa” e, no auge da animação do café, compramos passagens para uma viagem de 10 dias em abril de 2014.

Fomos então eu, minha mãe, dois tios e uma prima. Uma pequena e deliciosa loucura.

Dominguitos

Meu tio Rodrigo, muito engraçado, dizia que agora tinha um motivo para viver até abril, pelo menos. Fomos todos com algum receio, pois nunca havíamos viajado juntos e, vamos combinar, não era um grupo de jovens.

Chegamos no aeroporto de Lisboa e o primeiro desafio era saber como faríamos para chegarmos em casa. Nós 5 e nossas 5 malas.

Mas os santos protetores dos turistas nos ajudaram e apareceu na nossa frente o Seu Pedro.

Seu Pedro Castanheiro, hoje em dia um grande amigo, conseguiu carregar nós todos e nossas malas no seu enorme carro Mercedes de uma vez só. Nos levou para o apartamento na Calçada do Duque e não o largamos mais. Com ele, ou com seu irmão Seu José, fomos à Tomar, Óbidos, Nazaré, Alcobaça, Batalha, Conímbriga e Coimbra.

Depois de instalados no apartamento, eu no quarto, os dominguitos na sala e minha mãe num hotel próximo, acordamos um dia sem água quente no chuveiro.

Fiquei preocupada, pois como faria com tanta visita e água quente nenhuma?

Seu Pedro se prontificou a levar um conhecido na casa, que dizia entender tudo de gás. Antes de aceitar a sugestão, resolvi ligar para a companhia de gás e então descobri que o gás havia sido cortado por falta de pagamento.

Acontece que tinha contratado o débito em conta-corrente e não entedia o motivo do corte. Então a senhora do telefone explicou que sim, que o débito em conta estava contratado, mas que não valia para a primeira conta, que então ficou em aberto. Nunca poderia ter previsto esta dinâmica e deu no que deu. Água fria para os dominguitos.

Nada de grave, Seu Pedro me levou na loja do cidadão de Coimbra, um espaço onde qualquer cidadão tem acesso aos serviços essenciais e administrativos, todos num mesmo lugar. Como estávamos passeando por Coimbra naquele dia, lá mesmo paguei a conta, a taxa de religação e a taxa de urgência. Assim, na volta do passeio, já tínhamos água quente em casa e meus hóspedes não corriam mais o perigo de contrair uma pneumonia.

Além do tio Rodrigo, estava no grupo meu tio Fernando, mais calado, e que um dia resolveu sair do apartamento para um passeio a pé, sozinho. Demorou, demorou, demorou e tio Rodrigo e eu já estávamos um pouco preocupados, sem querermos confessar a preocupação. Eu já pensava em sair pelas ruas procurando o tio e pensava no que dizer para Fernanda, minha prima, filha do tal tio: perdi seu pai em Lisboa!

Mas tudo certo, o tio voltou. Ufa!

Em outra ocasião, resolvemos passar o dia no Porto, fazendo a viagem de trem, pois trem parece ser uma paixão entre esses irmãos. Pois o tal do tio calado, fez a viagem inteira no carro restaurante e foi conversando com cada passageiro de Lisboa até o Porto, o que deixou o tio Rodrigo enciumado a dizer: Fernando, você conversa, apenas não conversa conosco!

Sei que essa viagem foi uma das melhores que fiz. “Descobri” tios e prima.

Passeamos bastante. Os dias terminavam em volta da mesa da cozinha, com um bom vinho e muitas histórias.

Dominguitos

Foi durante essa viagem que consegui realizar um desejo, que era conhecer as ruínas de galerias romanas que foram descobertas em 1771 se encontram debaixo da rua, na Baixa de Lisboa.

Galerias Romanas de Lisboa

As visitas acontecem apenas uma vez no ano, em setembro, mas naquele ano especificamente, não me lembro exatamente o porquê, as galerias estavam abertas à visitação justo na semana da viagem dos dominguitos em abril. Acho que era pelos festejos de 40 anos da revolução de abril, salvo engano.

Sei que os dominguitos toparam a aventura e acordamos bem cedo e às 7 horas da manhã descemos a Calçada do Duque até o Rossio e de lá fomos procurando o lugar exato da fila para o acesso às galerias.

Chegamos ao local, na Rua da Conceição, e já havia uma considerável fila. Era cedo e fazia algum frio. Ficamos umas duas horas na fila até chegar a nossa vez de descer as escadas que ficam literalmente no meio da rua, sob um grande bueiro.

É bastante divertido. A entrada é feita por grupos de 20 pessoas para cada arqueólogo que vai guiando e fazendo as explicações. Formamos uma fila indiana de vinte pessoas e seguimos o líder. Quando o elétrico passa na rua, é um alvoroço. Para tudo, esperem o elétrico passar! E lá fomos nós!

Foi uma oportunidade e tanto! E os dominguitos não desapontaram! Embarcaram no meu desejo de conhecer as galerias. Ao sairmos, a fila chegava até a Praça da Figueira. Muito maior do que enfrentamos.

Fiquei feliz de ter tido a chance de conhecer essa parte escondida de Lisboa.

Fiquei feliz também de ter a oportunidade de viajar com meus tios, que não foram tão presentes durante minha infância, mas que agora eu descobria o prazer da companhia.

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