Vou me permitir uma “licença poética” e dar um salto no tempo.
Depois de três anos de Calçada do Duque, “nossa Lisboa” começava a mudar drasticamente. Agora era moda!
O casario no entorno de nosso apartamento começava a ser vendido para investidores. Foi um fenômeno muito rápido de gentrificação.
Foi então que comecei a sentir vontade de seguir adiante.
Conversei com João e o convenci de que nosso apartamento tinha valorizado e que seria uma boa oportunidade para vendê-lo.
Voltamos à mesma corretora e, no último dia de nossas férias de janeiro de 2016, colocamos o apartamento à venda.
Na época os corretores duvidavam que venderíamos o apartamento pelo preço almejado, mas eu não me abalei. Disse que estava muito feliz com o apartamento, como de fato, e que se não vendesse eu continuaria por lá. Para desistir de Lisboa tinha que ser por um motivo irrecusável.
Demorou um pouco para que alguém fosse ver o apartamento, mas quando foi, gostou e comprou.
Mas eu não estava confortável com a ideia de não ter mais um lugar meu em Portugal e mesmo durante o tempo em que o apartamento estava à venda sem interessados, eu continuava com minha mania de percorrer casas pela internet.
E mais, eu não precisava mais estar em Lisboa. Para mim, qualquer canto interessante em Portugal, e existem muitos, valia a pena.
Procurei casas de pedra em pequenas aldeias. Me imaginava passeando com o João, de jeep, ou de carrinha, como aqui chamam os carros utilitários, percorrendo quintas centenárias e adquirindo os vinhos que carregaríamos para casa e depois degustaríamos harmonizando com as refeições feitas em casa mesmo, com os maravilhosos produtos da terra.
Vi casas muito simpáticas que se encaixavam em quase todos os quesitos da minha fértil imaginação. Muitas delas no norte do país.
Mas, de repente, vi uma foto que captou minha imediata atenção.
Era o Douro!
Cliquei no anúncio e de início não acreditei que fosse possível uma vista tão extraordinariamente linda. Namorei aquela vista por muito tempo.
Foi então que tivemos que ir a Portugal para concretizar a venda. A ideia era ficar só uns cinco dias e voltar, pois seria apenas um contrato preliminar.
Acontece que o comprador resolveu fazer tudo de uma vez só e precisei ficar 10 dias não planejados em Lisboa. João teve que voltar, pois alguém tem que trabalhar!
Como tinha tempo de sobra e não tinha companhia, resolvi ligar para o corretor do anúncio e marcar uma visita.
Peguei o trem na Estação Santa Apolônia e as dez horas da manhã cheguei na Estação de São Bento, no Porto, onde iria encontrar o Carlos Pinto, que ainda não conhecia.
O apartamento não era no Porto, mas em Vila Nova de Gaia, na outra margem do rio, o que significa que a vista é o Porto.
Quando cheguei e vi o lugar caí de amores imediatamente.
Mas era uma mudança de rumo radical.
Era na beira do rio, mas longe de quase tudo. Se alguém precisasse de uma vela no meio da noite não haveria qualquer quitanda por perto para comprar.
Mas para mim era o que eu procurava, pois queria sossego e uma vista para chamar de minha.
Liguei para o João e fui mostrando o apartamento pelo celular mesmo. Depois, saí do edifício e fui andando com o telefone ligado para mostrar que o lugar era lindo e que não estaríamos longe da civilização, pois caminhando em torno de um quilômetro pela beira do rio, por um caminho que lembrava um pouco a caminhada em Cacilhas pelas construções abandonadas, chegávamos ao cais de Gaia, onde se encontram restaurantes, adegas, mercado e o teleférico que liga a beira rio ao alto da colina.
Depois de alguns dias de negociações, resolvemos comprar o tal apartamento. Iniciávamos uma nova história numa outra cidade que também, assim como nossa história com Lisboa, não conhecíamos muito, pois só havíamos passado por lá em raras ocasiões e nunca por um dia inteiro.
João e eu resolvemos pedir ajuda a um sobrinho para ir comigo até o Porto e ver o apartamento mais uma vez, antes de firmar o contrato preliminar. João queria uma opinião de alguém menos delirante do que eu para ter alguma certeza de que não era uma loucura. Mais uma!
Acontece que o sobrinho também caiu de amores pelo apartamento! Não era apenas fruto de minha permanente “lente cor de rosa” para ver o mundo.
Concluindo, voltei para o Brasil com a compra do novo apartamento alinhavada.
Estou a amar cada capítulo que você escreve amiga ❤️.
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Lisboa ainda tem história, mas o Porto e principalmente o D’Ouro são apaixonantes. Mais uma vez obrigado por me fazer viajar lendo seu blog.
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