Pé Na Estrada – Serra da Estrela, Abrantes e Piódão

O destino era Piódão.

Nossa viagem se iniciou no Porto. Pegamos a estrada A1 e, na altura de Aveiro, seguimos à esquerda para Viseu pela A25. Subimos a Serra da Estrela passando por Seia e, no topo da Serra, esquiamos por umas horas.

Ainda era inicio de temporada e a neve não colaborou como gostaríamos, mas foi possível a diversão.

Era como se estivéssemos no playground do prédio com os vizinhos. Contei apenas 16 pessoas na montanha.

Depois do esqui ficou claro que não poderíamos seguir direto para Piódão, pois a estrada ficaria escura e nos recomendaram a não encarar o caminho à noite. Somos aventureiros, mas nunca desconsideramos uma recomendação da gente local.

Descemos a serra por Covilhã, cidade de Pero da Covilhã, que muito contribuiu para o Império Português na época de Dom João II.

De lá seguimos pela A23 até Abrantes, cidade de nossos cunhados, quando então celebramos um encontro natalino antecipado, mas com o espírito de Natal presente. Muito amor, felicidade por estarmos juntos, pela simples vontade de estarmos juntos.

Carolina, Catarina e Fabio, os sobrinhos, não estavam, mas a “diretoria” estava lá.

Queríamos celebrar de uma forma especial e pedimos uma sugestão aos cunhados. A resposta foi uníssona. Para celebrar um belo encontro com uma boa comida tradicional portuguesa, com um bom vinho e um ambiente autêntico, tínhamos que ir ao Restaurante do Alberto, o Santa Isabel.

Recomendo a quem estiver indo de viagem entre norte e sul, que faça uma parada por lá. Um bom lugar para almoçar quando em viagem a Tomar, um tesouro que se localiza muito perto dali, ou antes de ir à Fatima, ou ainda ao castelo de Almourol.

IMG_3280O Santa Isabel é tudo que se espera de um restaurante tipicamente português! É referenciado no guia Michelin como um restaurante tradicional. É aconselhável fazer reserva.

A especialidade da casa é o filete de polvo com arroz malandro de feijão.

Pedimos o polvo, uma açorda de gambas e o porco preto, que vieram em porções generosas, após a degustação de um presunto maravilhoso e um queijo de cabra de Castelo Branco.  Todos os pratos dignos de um “jantar de Babete”.  Foi uma noite muito especial.

O Senhor Alberto é uma figura à parte. Muito gentil, orgulhoso de sua casa, de sua comida e de seus tradicionais clientes, a quem dedica o sucesso da casa.

Nós tivemos a sorte de, ao menos uma vez no ano, passar por lá! Recomendo fortemente!

No dia seguinte partimos em direção a Piódão pelas estradas nacionais, passando por Vila de Rei, onde se localiza com exatidão científica, o centro geodésico de Portugal.

Não resistimos e resolvemos subir a colina até o marco.

Marco do Centro Geodésico de Portugal

Visitamos o pequeno museu e fomos recepcionados pela alegre e gentil Leonor.

Sempre com muito orgulho, nos mostrou o museu com aparelhos como sextantes e a máquina que, pelo que entendi, recebe e propaga todo o sinal de GPS de Portugal. Se não for assim exatamente, não é culpa da explicação da Leonor, mas sim de minha inabilidade para a tecnologia e o saber tecnológico.

Leonor nos explicou que a região era explorada pelos romanos a procura de ouro. Muitos vestígios existem na região, mas ainda não foi encontrada nenhuma cidade próxima aos locais de extração, o que desafia Leonor a prosseguir seus estudos em arqueologia, pois ainda quer cavar por lá e encontrar a vila romana. Espero que encontre!

De volta à estrada, seguimos nosso caminho para Piódão.

Passamos por paisagens devastadas pelos incêndios do verão de 2017 em Portugal, inclusive Pedrógão Grande.

Não é possível passar por aquelas estradas e ignorar a grande tragédia portuguesa. Florestas inteiras queimadas dos dois lados da estrada. Imaginar o fogo ardendo tão alto naquele lugar foi impactante.

Seguimos as placas para Piódão, muitas delas queimadas, e nos encontramos sozinhos nos cumes das montanhas.

Tenho que admitir que sou um pouco tensa para certas situações e logo pedi a minha filha para poupar a carga do celular, único que tinha internet permanente, para o caso de alguma eventualidade. Se o carro alugado desse defeito naquele lugar, não saberia a qual santo pedir socorro, mas de certo um celular ajudaria.

Era como se estivéssemos seguindo o caminho dos ventos, pois ao longo da estrada estávamos muito perto das torres de energia eólica. Pois foi assim que me senti. Seguindo o vento no topo das montanhas.

Estrada Para Piódão

Só nós e o vento, até Piódão.

Ao nos aproximarmos de Piódão, digamos a uns 10 KM do destino, a estrada se tornou mais radical.

Era uma estradinha muito estreita, de mão dupla, e sem qualquer cerca de proteção. E mais, um lado era a montanha e do outro, naaadaaa. Um precipício sem fim.

Era dia, fazia sol, mas mesmo assim dava um frio na barriga.

Fomos nessa estradinha até chegarmos a Piódão. Uma aldeia de um outro tempo! Uma maravilha medieval! Como se as montanhas ao redor impedissem Piódão de girar tão rápido quanto o mundo.

Piódão

A vila é toda construída de xisto, um tipo de pedra. Paredes, telhados e calçamento. E deve ter o tamanho de um ou dois quarteirões de Ipanema.

É simplesmente deslumbrante.

PiódãoMas é isso. Uma vila medieval, pequena e única. Se você espera grandes atrações, restaurantes, e lojas, não é o lugar para você. É um passeio para quem ama o antigo e a singeleza.

Nosso retorno foi em parte pela mesma serra perigosa, que vai pelo topo das montanhas, mas nos explicaram que há outro caminho 10 KM mais longo, que vai por baixo, pelas aldeias. Bastava seguir a direção de Vide, mas as estradas eram piores, segundo nos foi dito.

Decidimos voltar pela serra, aproveitando as boas condições do tempo e da estrada, no caminho de Coja, em direção a Coimbra. Foi tenso, pois na volta o carro vai ao lado do precipício e não mais encostado na montanha. Ou seja, o caminho não é “para fracos”, mas é mais rápido e muito bonito. Mas acredito só ser possível em dias de bom tempo. Uma chuva, vento e gelo por ali deve tornar o caminho impossível.

 

 

Restaurante Santa Isabel – R. Santa Isabel 12, Abrantes

+351 967 893 970

 

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